Aproveitando esse período de férias
escolares, resolvi divulgar uma matéria que saiu na revista Época no ano
passado sobre o que deixa as crianças felizes.
A matéria confirma o que vejo muito
no consultório, principalmente nos atendimentos de família. Momentos juntos de
diversão e lazer é o melhor remédio para o bem estar de TODA a família, que
fica mais saudável, harmoniosa e unida para enfrentar os problemas que podem
surgir.
Como terapeuta de família, estimulo
esses momentos, até mesmo dentro da sessão em que proponho trabalhos
cooperativos para entender como é o funcionamento do sistema familiar.
Aproveitem para brinca e estar com
uma criança. Essa atitude faz bem não apenas para os pequenos, mas para todos
os envolvidos.
Nathália Villela de A. Bezerra.
Criar
filhos felizes é uma das maiores preocupações dos pais – e começa antes mesmo
de eles nascerem. O que deixa as crianças realmente felizes? Brinquedos,
viagens ou parques de diversões? Uma pesquisa exclusiva mostra, pela primeira
vez, o que sentem as crianças brasileiras. E ninguém melhor que elas próprias
para contar o que as deixa felizes ou tristes.
A pedido da
Sociedade Brasileira de Pediatria, o instituto de pesquisas Datafolha ouviu
1.525 crianças, de 4 a 10 anos, de 131 municípios. Até então, não existia no
Brasil uma investigação sobre esses sentimentos. Não era possível afirmar se a
diferença cultural ou a classe econômica poderia contribuir para o grau de
felicidade na infância. Para surpresa dos pesquisadores, nenhum desses fatores
foi significativo. Crianças do Recife deram respostas muito parecidas com as de
São Paulo ou Porto Alegre. “Os sentimentos se mostraram universais”, afirma
Eduardo Vaz, pediatra, presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
O estudo
contemplou os estados emocionais da criança em relação à família, ao futuro, às
brincadeiras e à escola. E aí veio mais uma surpresa: o que deixa a criança
mais feliz são coisas simples, como estar com os avós, brincar com os amigos e
praticar esportes. Para saber se os pais têm essa mesma percepção, ÉPOCA
conversou com dez famílias, das cinco regiões brasileiras. A seguir, os resultados.
Família
Querer ficar
perto dos pais, dos irmãos e... dos avós. Sim, dos avós também. É isso que
deixa 87% das crianças brasileiras mais alegres, de acordo com a pesquisa. E
eles estão mais presentes no dia a dia dos netos por vários motivos.
Os avós de
hoje chegam à velhice mais saudáveis, conectados e menos saudosistas. Lucia
Maria Chavez mora em São Paulo e os netos, Fernando, de 11 anos, e Leonardo, de
5 anos, em São Carlos. Mas eles se falam todos os dias, por Skype ou telefone.
Quando a mãe, a nutricionista Fernanda Mozeto, trabalhava fora e uma das
crianças tinha febre, a avó percorria os 255 quilômetros que separam as duas
cidades para cuidar do neto. “Os avós são repositórios da história daquela
família”, diz Lídia Aratangy, psicóloga, autora de Novos desafios da
convivência (Ed. Rideel). “A presença deles traz, para a criança, a segurança
de onde ela veio.”
Estar perto
dos pais também é motivo de alegria para a maioria das crianças. Para 87%,
ficar perto da mãe; para 78%, do pai. E um dos fatores que mais entristecem as
crianças é ficar longe deles. Cerca de 71% dizem ficar muito tristes quando
longe do núcleo da família (geralmente o pai e a mãe).
O dia do
aniversário aparece como motivo de alegria para 96% das crianças. Não só os presentes
são responsáveis pela felicidade dos pequenos, mas a atenção que recebem na
data da família e dos amigos também – além do próprio fato de crescerem
oficialmente.
Longe do
estereótipo de família perfeita, saber que a proximidade é tão importante para
o bem-estar da criança pode ajudar os pais a, dentro do possível, adotar
pequenas atitudes que façam diferença para os pequenos. Pode ser um recado
surpresa na lancheira, uma ligação no meio da tarde, um SMS ou usar a hora do
almoço para buscá-lo na escola. Levar ao cinema ou a um parque também é bom,
mas a presença dos pais faz mais diferença que o tipo de programa. Como disse o
escritor Guimarães Rosa, “felicidade se acha em horinhas de descuido”.
Fazer
refeições em família, mostrou a pesquisa, deixa 87% das crianças felizes. Mas e
aquele dia em que a mãe chega tarde do trabalho e os filhos estão dormindo?
“Esses momentos pontuais não importam se os pais estão presentes”, afirma
Lídia. Presença física é importante, mas não é só a isso que Lídia se refere
quando fala em presença. Saber onde o filho está, o que vai comer, se está
usando casaco em dia de frio, se voltou da escola bem ou se vai ter um
aniversário de um colega e é preciso comprar um presente são cuidados à
distância que fazem diferença na relação familiar. “As crianças sentem essa
conexão”, diz Lídia.
Uma vez que
é ouvida, valorizada, recebe atenção e carinho, a criança sente que pode
confiar nos pais. Essa confiança torna-se um canal aberto para o diálogo na
adolescência. O que não significa que percalços não acontecerão. Mas, se algum
problema ocorrer, esse adolescente tem intimidade para se abrir e pedir ajuda.
Futuro e
autoestima
Essa teia de
intimidade construí¬da com a família se reflete em outra área importante no
desenvolvimento infantil: a autoestima, capacidade de se gostar e de se
valorizar. A pesquisa mostrou que os pais estão no caminho certo: 86% das
crianças ficam alegres quando se veem numa fotografia e 87% quando se imaginam
adultas.
Gostar de
ver a própria imagem é um sinal positivo sobre a autoestima. Ficar feliz ao se
imaginar adulto demonstra segurança sobre quem é, o que vai se tornar e mostra
esperança no futuro. Para Odair Furtado, psicólogo, professor do programa de
psicologia social da PUC-SP, isso é reflexo de uma mudança profunda em nossa
sociedade. A condição de vida do brasileiro melhorou, principalmente nas
classes mais baixas, e a perspectiva de futuro, enfim, deixou de ser apenas
sonho. “O futuro se concretizou”, afirma.
A imagem é
um dos blocos na construção da autoestima. Os outros blocos podem ser
aprendidos no dia a dia, com a ajuda dos pais. Valorizar conquistas, como
quando a criança aprende a andar de bicicleta sem rodinhas, é uma delas. E
ajudar a levantar do chão quando ela cair. “Os pais precisam permitir que o
filho enfrente desafios”, diz Ana Olmos, psicanalista infantil e pesquisadora
da Universidade de São Paulo (USP).
Mas nem
sempre ela vai conseguir. Aprender a se frustrar é tão importante quanto saber
lidar com críticas quando elas dão apoio para avançar e não desistir. Por
exemplo: ensinar à criança os melhores movimentos para o jogo de damas é
educativo. Deixar propositadamente que ela ganhe, não. “Quando for confrontada
fora de casa, não vai saber lidar com isso”, diz Ana.
Uma amostra
de como a criança percebe as críticas familiares de forma positiva é como ela
percebe a bronca de uma forma diferente dos pais. Para sete dos dez pais ouvidos,
bronca é o maior motivo de tristeza para os filhos dentro de casa. Para 71% das
crianças, a maior chateação é ficar sem os pais. A bronca não aparece como
motivo de tristeza no levantamento. “Mesmo quando fica triste por ser
repreendida, a criança se sente inconscientemente protegida”, diz Ana Olmos. “A
partir dos 6 anos, as crianças têm a percepção consciente de que os pais estão
discutindo com elas para seu bem.”
Brincadeiras
Um dos
dilemas dos pais modernos é o que oferecer para que os filhos tenham as
melhores oportunidades no futuro. Além de se preocupar com cursos
extracurriculares, como aulas de língua estrangeira, é importante preservar o
tempo da brincadeira. “Brincando as crianças aprendem habilidades que vão além
do desenvolvimento motor e cognitivo”, afirma Maria Ângela Barbato Carneiro,
coordenadora do Núcleo de Cultura e Pesquisas do Brincar da PUC-SP. “Ela
aprende a argumentar, a ser ouvida, a prestar atenção, a organizar e liderar, a
propor novas alternativas.”
Na pesquisa
da SBP, as brincadeiras aparecem como atividades favoritas quando as crianças
não estão na escola. E, ao contrário do que muitos pais pensam, tecnologia não
é o primeiro item da lista. Seis entre dez pais entrevistados apontaram
videogames e internet como distrações favoritas. Na pesquisa com as crianças,
apareceram brincar de boneco ou boneca e de carrinho como brincadeiras
individuais favoritas. Videogame está em quarto lugar nessa categoria. Dentre
as distrações em grupo, as crianças elegeram jogar bola, andar de bicicleta e
brincar de esconde-esconde. As atividades que faziam sucesso na infância dos
adultos são as mesmas que fazem a alegria dos pequenos de hoje.
Outra
impressão dos pais desfeita pela pesquisa é o que deixa os filhos muito
tristes. Os adultos de sete famílias, dentre as dez ouvidas, apontaram perder
em jogos e competições. Para 47% das crianças, tristeza é brincar sozinho.
Perder não foi citado como motivo de tristeza.
A publicitária Adriana Ceresér, de 37 anos,
leva as filhas, Gabriela, de 9, e Gisela, de 6, desde pequenas para brincar em
espaços públicos, mesmo tendo quintal em casa. “Quero que elas tenham outros
núcleos de amizade”, afirma. Nos fins de semana, toda a família anda de
bicicleta. Quando não vão, as meninas reclamam. “Sinto que isso as deixa
desenvoltas.” E os ganhos são físicos também. “Elas já andam de bicicleta sem
rodinhas, enquanto os primos, que não passeiam sempre, ainda usam”, diz
Adriana. As brincadeiras são um estímulo para as crianças se engajarem numa
atividade física no futuro. A pesquisa mostra que 93% delas gostam de praticar
esporte. Como explicar, então, que uma em cada três crianças, segundo o
Ministério da Saúde, está acima do peso? É simples. “Gostar não significa que
pratiquem, nem que conheçam diversas opções”, diz Beatriz Perondi, pediatra e
médica do esporte do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
Brincar com jogos esportivos no videogame não substitui a prática de verdade.
Uma hora de brincadeira gasta cerca de 700 calorias, em comparação a 150
calorias em frente à televisão. “Fazer do esporte uma atividade familiar
prazerosa contribui para a formação do hábito de praticar depois”, diz Beatriz.
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Escola
Quando perguntadas do que gostavam
na escola, as crianças não titubearam: 91% citaram as férias. E 89%, o recreio.
O segundo número mostra que a escola é um lugar onde a criança se sente bem
porque tem a oportunidade de interagir. “Elas gostam dos momentos em que podem
brincar sem atividades guiadas”, afirma Maria Márcia Malavasi, coordenadora de
pedagogia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
A lição é motivo de alegria
(acredite) para 65% das crianças. A servidora pública Lara Barcelos de
Carvalho, de 38 anos, moradora de Sobradinho, no Distrito Federal, faz questão
de acompanhar a hora da lição de casa. Caçula de 16 irmãos, ela quer dar aos
filhos Matheus, de 11 anos, Felipe, de 7, e Geovana, de 6, o acompanhamento que
não teve. “Eles entendem melhor quando estudo com eles”, afirma. Os amigos dos
filhos pedem para fazer trabalhos do colégio na casa de Lara. “Desejo que cada
um desempenhe, da melhor forma, a capacidade que tem.” E esse não é um caminho
para alcançar a felicidade?